quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mito do Encontro

Conta a história que havia um complexo de cavernas a oeste de Esparta onde humanos, semideuses e deuses se entregavam a luxúria cega. Lá dentro era impossível que se enxergasse, estavam todos entregues a sorte dos outros quatro sentidos. Duas bacantes tomam conta da entrada do brinquedo do deus Baco, sempre avisando aos incautos chegados de todas as áreas da Terra: “Aí dentro não existem prestígio, idade ou divindade; só o desejo e a sua temível realização”.
Frequentador de suas vielas e esconderijos, Oluas deixava de lado a busca por sabedoria e tranquilidade por alguns instantes de ascendente volúpia sem qualquer restrições, era a sua ascendência deixando seu sangue falar. De suas tristes investidas ficavam apenas as marcas de uma solidão crescente. Mesmo cercados de corpos e prazer, o íntimo daquelas pessoas era surdo aos apelos uns dos outros. Não apelos da carne, mas do espírito. Num desses dias de vagar profundo, Oluas sentiu uma brisa acompanhada de pingos d'água, suaves mãos de toque forte o envolveram. O que se deseja é o que mais se teme... Afastou-se daqueles braços, deu continuidade a sua caminhada.
Rameri surgira de um conflito. Quando o Tifon destruiu o Olimpo e colocava medo nos deuses procurando aplacar a própria ira, avistou uma bela chuva que se dirigia ao mar, desejoso de mais que violência, lançou-se contra a bela manifestação natural: beijando, tocando e se misturando a tudo que a compunha... Nada ficou intocado. A chuva continuou seu trajeto e o monstro voltou a procurar por vingança. Ao chegar no mar, de suas nuvens entre seus pingos cairia também uma criança de cabelos prata e sorriso tímido; fora, assim, adotada pelos pescadores.
Tranquilo, observador e sagaz Rameri tornou-se um bom presságio para a pesca, sempre acompanhado por uma brisa envolvida em doces e raros pingos de chuva. Um dia estava na costa observando os pescadores em seu ofício quando uma serpente marinha gigantesca enrolou-se em dois barcos e se preparava para atacar. Espantado, de seu peito um tufão emergiu, rasgando suas vestes destruindo animal e barcos. Desapontado com sua natureza agressiva até então desconhecida de todos, deixou o lugar, passando a vagar pelas ruas e cidades da Grécia. Ia com frequência às cavernas bacantes. Onde avistou Oluas encantando-se...
Daí por diante, Rameri estava a espreita do triste sábio. Até que num desses dias tórridos de verão, Oluas e Rameri conseguiram se ver na escuridão profunda do desejo. Vozes, afagos, fragrâncias e sabores ditaram o enlace seguidos pelos pensamentos e sentimentos que fizeram dos dois parte de um eterno segundo. Experimentados um do outro e de vias cruzadas dividiram os próprios destinos.
Anailuj, por estes dias de verão, estava a procura de algo que transformasse o calor em alegria. Diante de uma Acrópole abandonada, ruas vazias, belas casas tristes e silêncio monótono, decidiu erguer um monumento a beleza, alegria e desejo. A cidade de Adnilo tornou-se, a um pensamento da bela, um espaço repleto de sons e cores alegres; a bela voz da filha da musa e do deus mensageiro se ouviu em todos os cantos da Terra, nas nuvens ela deixara cravado o convite.
Aos poucos, o vazio deu lugar completude. Adnilo fervia na festa da carne. Os três ali se encontraram novamente, mas agora algo diferia... Oluas acompanhado por Rameri sorria profundamente curado de sua solidão. Nosdliw e Adidnac deram as costas, grande tristeza se fez em meio a bela festa. Anailuj não acreditou na reação de seus convivas, olhou em volta, ao canto além da multidão estava Éris, com seu amargo sorriso. Nos pratos da tríada, os restos das maçãs douradas.
Afastados da turbulência emocional Rameri e Anailuj foram em busca de um antídoto para os três. Ao comando da anfitriã os convidados abriram caminho e revelaram o esconderijo da deusa hedionda, ela não temia aquela aliança. Mas, foi a presunção sua ruína. Envelhecida na aparência e arremessada de um lado para o outro pelo vento, pediu perdão e entregou-lhes a maçã vermelha. Os festejos ainda mais se intensificaram. Chuva de suco da maçã da concórdia precipitou-se sobre todos...