terça-feira, 11 de outubro de 2011

O mito da amizade

Conta a história que as margens do Mar Egeu existia largo grupo de semideuses e seres místicos reunidos para trocar ensinamentos com os mais novos. Recém-chegados estavam a bela ninfa Ael, uma filha das fúrias Anaya e o filho do Rio Acheloos Oluas. Os três logo travaram fina amizade, apesar de suas diferenças de origens e objetivos. Ael vinha da Arcádia, mas não se sentia segura lá, desejava ser mais que uma ninfa a corres e esperar a próxima investida de qualquer dos voluptuosos deuses do Olimpo. Anaya trazia a tradição de sua linhagem de sangue forte quente e venenoso, caçadora do traidor Tempo, porém desejava se afastar da perseguição imposta por sua linhagem, queria ser estranhamente uma fúria independente. E Oluas estava muito mais intrigado com a reunião de tanta gente, desejava um dia se tornar um lago sereno para aplacar a sede dos viajantes em busca de conhecimento. Completamente diferentes os jovens deram-se as mãos e dividiram alguns medos e algumas esperanças.

O filho do Rio era muito perdido em seus pensamentos que se pretendiam grandes, no entanto terminavam pequenos e mortais como quaisquer outros. Já as outras duas estavam extremamente atentas uma para a outra, enquanto a ninfa oferecia liberdade a fúria; esta a devolvia solidez. Assim acontece quando estamos aptos a deixar que os outros entrem em nossas vidas: como planta rara sua amizade cresceu em solos tão diversos, mas corações extremamente atentos para um respeito incomum...

Como sempre o Tempo aparece, mesmo que apenas sua sombra para modificar tudo, devorar com sua fome aquilo que quase deuses ou quase mortais tanto prezam: o amor. Anaya sonhou com seu inimigo cortando-lhe o ventre com sua foice impiedosa... Nos dias que seguiam sua fúria só fez aumentar, sua ira recaía sobre todo aquele que ousasse falar sobre o Tempo ou tentar escondê-lo, mas ela deveria saber que tal sombra não abandona nenhum dos seres da Terra. A pobre Ael usava de sua alegria arcádica para tentar tirá-la dessa situação, porém ela também tinha seus problemas. Na outra margem do Mar Egeu estava o filho de cérbero, trazia com ele os dissabores do inferno marcados em seu corpo... Impressionada Ael entregou-se vacilante a tal amante... As marcas do inferno são contagiosas...

Contagiada pelo fogo e, de certa forma, ausente a ninfa perdia-se em seus voos entre as portas do inferno e a bela Arcádia. Anaya se sentiu cada vez mais só e o tempo cada vez mais próximo em seus pesadelos. A todo momento procurava por ele nas sombras, nos olhos dos outros, nos sons das palavras, … Tudo poderia ser Ele... e todos pareciam estar a favor Dele. Oluas assistia a tudo espantado, achava que a planta rara nascida resistiria aos vendavais das diferenças entre as amigas. Ledo engano...

Ael tenta deixar as portas do inferno organizando a clareira de aprendizado do Mar Egeu e é mal interpretada por Anaya. As chagas causadas pelo abandono de uma a outra já doíam e tornavam vinagre o vinho da amizade, separadas achavam que iriam seguir...

Até que chegou a notícia de que o Tempo estaria por perto do Mar Egeu e a bela fúria tentaria buscá-lo para curar sua angústia de viver, porém preocupada a doce ninfa pediu ao filho do rio para avisar a Anaya que aquela informação era um simples boato... Era isso! As duas ainda se gostavam, a rara planta nascida no solo de seus corações resistira então.

Saindo de sua posição estática Oluas decidiu escrever nas nuvens do céu para que todos lessem as desventuras de tão bela amizade, para que elas se sensibilizassem e tornassem a dar ao mundo o que ele mais precisa: tolerância e amor.

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